As Bandas Que Ouvi Por Aí: Da cidade da música para o mundo, conheça Tchello Gasparini - Palco Pop
Colunas | Publicado por Beatriz Carlos em 11 de janeiro de 2019.
As Bandas Que Ouvi Por Aí: Da cidade da música para o mundo, conheça Tchello Gasparini

Conhecer bandas novas ou mesmo um artista solo, que realmente nos faça ficar envoltos em suas histórias, pode ser uma tarefa difícil em meio a tantas informações. Porém, estamos aqui para te ajudar nessa missão! Toda semana apresentaremos a vocês diferentes artistas do cenário independente que assim como nós vocês precisam ouvir. Hoje vamos falar do ator, cantor e compositor Tchello Gasparini.

Hoje em dia é fácil criar um canal no YouTube. Lá você pode mostrar qualquer talento. A maioria das pessoas escolhe cantar músicas conhecidas para tentar a sorte e ganhar fama nas redes sociais.

Mas só de rede social viverá o homem? E o contato físico? O cara a cara é muito importante para os artistas, principalmente para os que são músicos ou atores de rua. Agora imagina só o quão importante é este contato para um artista que passeia pelas duas profissões.  

Há 21 anos Tchello Gasparini se apresenta como músico e ator. Nascido e criado na cidade da música, Tatuí, interior de São Paulo, o artista sempre foi influenciado por sua família e o amor pelo teatro veio como uma consequência de sua imersão no mundo da arte. Formou-se em Artes Cênicas na Universidade de São Paulo e foi um dos fundadores do Coletivo de Galochas que continua em plena atividade.

Aos fãs de Murillo Augustus, Terra Celta e O Bardo e O Banjo, Tchello Gasparini é a artista que lhe faltava.

Assista ao clipe de “Atropelando a Madrugada”:

O Começo

“Tudo começou muito antes de mim. Começou com minha avó, seresteira, o meu ícone. Começou com uma família de músicos brilhantes, violonistas, bandolinistas, cantores. Começou com uma cidade que exala música por todos os poros, onde tudo é música e música é tudo. Ou era. Eu sou uma consequência disso tudo. Dos amores e das dores dessa avó, dessa família, dessa cidade. Eu nasci e cresci mergulhado na música, feito um passarinho. Então é muito difícil dizer se começou como brincadeira ou como coisa séria. Começou porque tinha que começar. Porque faz parte de mim. Porque eu faço parte disso. Entrei no violino com menos de 4 anos de idade, no conservatório de Tatuí. Depois de uma perda terrível, desisti do instrumento aos 9 anos e passei a me dedicar ao teatro, arte pela qual me dediquei até meus 20 e poucos anos. Com meus limitados acordes de violão e uma voz potente, tocava na noite pra ganhar uns trocados e sempre me envolvi com espetáculos musicais. Lá pelos 20 montei uma banda com amigos da faculdade de cênicas da USP, o Coletivo Sonoro Radiola. Quando dei por mim, dedicava mais tempo da minha vida à banda do que ao teatro. A banda acabou, a faculdade acabou, mas a arte resistia. Voltei pra terrinha, casei, fui pra Belém, voltei… Tudo isso sempre com um instrumento na mão e o gogó aquecido. A vontade de desengavetar as composições e escrever mais algumas foi consequência disso.”

Como foi a reação da sua família quando escolheu a música como profissão?

Não acredito que tenham se surpreendido, como eu disse a música já era parte de nossas vidas. Acho que quando perceberam que essa seria minha profissão de fato, se preocuparam, a gente sabe que não é mole. Minha vó deve ter dado pulos de felicidade, onde quer que esteja.”

No início de sua carreira voce já tinha definido seu estilo ou se preocupava em desenvolver músicas para um determinado público?

“Como artista da noite, aprendi a ser um pouco camaleão – Claro que dentro de um universo cujas cores ainda me fossem minimamente agradáveis. Porém, nas minhas composições eu sempre defino as minhas próprias guias. Apesar de experimentar em vários estilos, o folk, o blues e o rock and roll sempre foram minha estrada. Depois, apliquei essas paixões também no trabalho de entretenimento, trabalhando com projetos nos quais me identifico, oferecendo diversidade acha um público acostumado com a hegemonia.”

Após 4 anos de banda A Manilha, Tchello resolveu dar início a sua carreira solo lançando no dia no dia 15 de maio de 2018 o seu primeiro trabalho autoral. Durante 5 meses lançou singles acompanhados de clipes, semelhante ao projeto Check Mate da cantora Anitta.

Os primeiros trabalhos autorais

“Depois de muito tempo trabalhando com covers e versões, achei que era o momento de começar a mexer com minhas composições. Fiz uma parceria maravilhosa com a Gravadora Experimental do curso de Produção Fonográfica da FATEC de Tatuí. Gravamos 5 músicas no ano passado, todas elas com vídeo clipe. Foi uma experiência maluca, uma correria absurda, mas foi muito satisfatório. O retorno foi incrível nas redes sociais, os clipes deram uma “causada” na cidade. Apesar de ser a Capital da Música, Tatuí não tá muito acostumada a ver um artista da cidade com uma produção dessas. E o projeto todo é dedicado a cidade, não é à toa que o EP e uma das faixas têm o nome A VOZ DA CIDADE.”

Se você está à procura de um Instagram divertido, e cheio de novidades, você precisa visitar o perfil do Tchello. Além de mostrar um pouco do seu dia a dia, e as aventuras seu filho Zeca, o artista também dedica parte de seus Stories a um personagem muito importante, A Nona.

Como começou essa história da personagem “A Nona”?

“Eu sou do teatro, sempre gostei de brincar com personagens. E durante um certo período eu recebi alguns amigos em casa, um pessoal que passou um tempo lá, dois estudantes de teatro que acabaram ficando sem casa, estavam em um período de transição, e acabaram ficando dois meses morando comigo. Eu brincava muito com eles porque eu fazia o almoço e eles ajudavam, então como eles eram mais novos eu ficava brincando que eu era A Nona, porque eu os chamava pra comer, falava que ia dar na cara deles, então, com o tempo, eles começaram a brincar ‘você é a nossa Nona’. Eu brincava com essa personagem e ia exagerando, comecei a brincar com outras pessoas que chegavam em casa. Então resolvi jogar no Instagram também, e acabou virando uma sátira da Ana Maria Braga, da Palmirinha que eu sou fã, sou apaixonado por ela. Virou uma brincadeira com essas coisas, enquanto temos essas mulheres que são super delicadas na cozinha, temos a Nona que não cozinha nada, sempre usa as coisas prontas, xinga todo mundo e reclama de todo mundo.”

Hoje em dia qual é o seu público-alvo e qual o seu diferencial no mercado?

Hoje me considero um artista folk, no sentido mais amplo da palavra. Canto o que é da minha terra, da minha cultura, da minha história. Mas sem me agrilhoar a isso. Eu venho do Rock and Roll e continuo fiel a ele. Gosto de mistura-lo ao blues, ao folk. Meu público busca a mesma coisa, essa mistura. Eu busco sempre casar o velho e o novo. Busco oferecer a potência e a essência do Rock and Roll e do Blues com a delicadeza e a sutileza do folk, tudo isso num clima de sertão.”

Se preocupar com a estética ou deixar fluir?

Eu sempre crio a partir de algo que me move de alguma forma – algo que eu amo, algo que eu refuto, algo que me tira da inércia. A velha pulga atrás da orelha. Me vêm frases à cabeça, eu as escrevo no celular. As vezes já vêm as letras completas, às vezes alguns trechinhos. Quase todas as madrugadas, revisito essas anotações. Elas vão ganhando forma, já me vêm ideias de melodia. Sempre me bate a vontade de levantar e tocar no violão, experimentar. Sempre desisto da ideia, senão acordo meu filho. Então, no dia seguinte, faço isso. Ajusto, remexo. O som nasce. Mas esse processo pode levar meses, anos. Tem música começada de mais de 3 anos nos meus blocos de notas. E tem música que nasce em algumas horas – EX-AMIGO e ATROPELANDO A MADRUGADA são exemplos disso.  Já a DE VOLTA NA ESTRADA ficou mais de um ano na geladeira até ganhar a forma que tem hoje.”

As principais influências

Bob Dylan, Neil Young, Belchior, Raul Seixas, Joe Cocker, Eddie Vedder, Caetano Veloso, Rita Lee, Screamin’ Jay Hawkings, Arnaldo Batista, Renato Teixeira, Zé Ramalho, Renato Godá, Sidney Magal, The Doors, Queen, Led Zeppelin, Howlin’ Wolf, Sonny Boy Williamson.”

As influências da nova geração

Ando muito ligado em parceiros, gente que tá na estrada comigo. Ouço muito Murillo Augustus, Leo Vieira, Demerara, Lívia Mendes… dos mais midiáticos, curto bastante Greta Van Fleet, Rag’n Bone Man, Fantastic Negrito, Chris Stapleton.”

Qual dos singles/clipes que você lançou teve a maior repercussão até hoje?

“Pranto para Belchior. Acredito que, além da parceria maravilhosa com a Folkdaworld, o nome do grande Belchior é muito forte, o cara é amado mesmo. Fiz essa música como uma homenagem a ele, acredito que a repercussão foi uma forma linda de honrar o nome desse gigante da nossa música. Sem contar que as pessoas estavam doidas pra ver esse lindo corpinho gordo dançar maravilhosamente bem!”

Plataformas Digitais vs Shows Ao Vivo

“Eu acho que esse VERSUS não se aplica! Aliás, acho justamente o contrário. São duas experiências totalmente distintas e complementares. Acredito que as apresentações ao vivo atiçam o público para conhecer e apreciar as músicas nas plataformas digitais e vice-versa! Ando tendo feedbacks recentes de gente que me conheceu tocando ao vivo e comenta meus trabalhos online com muito entusiasmo. Isso é demais!”

Existe algum lugar que você sonha em fazer um show? Qual?

“Eu sonho fazer shows no máximo de lugares possíveis e impossíveis. Quero fazer shows em praças, nas ruas, nos prédios, em trios elétricos, em grandes eventos, no quintal de casa… quero fazer show pro máximo de gente possível. Quero chegar a todos os ouvidos do mundo. Meu recado é urgente. Mas tratando dos temas que eu trato, meu sonho MESMO é fazer um grande show aqui, em Tatuí. Quero que minha música chegue em cada um dos pé-vermeios dessa cidade.”

O que os fãs podem esperar de você nos próximos meses?


“Os fãs podem esperar MUITO trabalho, MUITO material e cada vez MAIS apresentações. O EP “A VOZ DA CIDADE” vai ser lançado em mídia física – o bom e velho CD – de uma forma única e linda! Também estamos na fase “Sala de Justiça” do próximo álbum, planejando os ensaios e gravações. Vai rolar muita participação especial por aí. Se ano passado teve novidade até a boca do copo, esse ano é melhor arranjar um copo maior. Saúde!”

O talento de Tchello Gasparini é indiscutível, seja no teatro ou na música. O projeto que deu vida as suas 5 canções é admirável. Com uma pequena equipe e com um baixo orçamento ele foi capaz de realizar o que muitos artistas midiáticos não conseguem, provando que a determinação e o amor pelo o que faz devem estar acima de tudo.

Que você consiga realizar todos os seus sonhos e nos contemple com mais projetos! 

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