Conhecer bandas novas ou mesmo um artista solo, que realmente nos faça ficar envoltos em suas histórias, pode ser uma tarefa difícil em meio a tantas informações. Porém, estamos aqui para te ajudar nessa missão! Toda semana apresentaremos a vocês diferentes artistas do cenário independente que assim como nós vocês precisam ouvir. Hoje vamos falar da cantora e compositora Natália Spadini.
A música brasileira é respeitada e admirada no mundo inteiro, e o samba é, sem dúvida, o gênero que mais se destaca nas terras estrangeiras. Carmen Miranda, Pixinguinha, Adoniran Barbosa, Noel Rosa, Bezerra da Silva e Dona Ivone Lara foram alguns dos responsáveis por dar forma a este gênero.
O gingado, o sorriso, o calor humano e a alegria de compartilhar momentos, celebrando a vida, são algumas das características principais do samba, fazendo com que o gênero transcenda a música e se torne um estado de espírito para quem o ouve.
Entretanto, muitas vezes não valorizamos o que é de casa, sempre de olho na grama do vizinho esquecemos da riqueza cultural em que está imerso o nosso país. Mas, estamos aqui para mudar essa realidade, e a cantora e compositora Natália Spadini também.
A artista nasceu em São Paulo, mas atualmente vive em Los Angeles na Califórnia. Levando o gingado e a musicalidade brasileira, Natália já se apresentou na House of Blues em Hollywood e em festivais como o Summer Jazz Summer Series acompanhada pelo trio Little Brazil.
Aos fãs de Roberta Sá, Diogo Nogueira e Alcione, Natália Spadini é a artista que lhe faltava.
Assista “No Samba Quero Viver” ao vivo em Los Angeles:
O Começo
“A música surgiu na minha vida desde muito cedo. Lembro que quando eu era bebê ainda, cerca de dois, três anos de idade, minha mãe colocava Djavan pra eu dormir e eu amava aquelas canções, especialmente “Faltando um Pedaço”. Mais tarde, lá pelos meus 9 anos de idade, comecei a participar de apresentações na escola e com 10 anos, fui convidada para cantar em um casamento, e foi a primeira vez que me apresentei “profissionalmente”. E foi naquela época que o famoso karaokê virou febre, e uma das minhas tias comprou e eu me lembro que virávamos a noite cantando. Numa dessas noites surgiu a pergunta: “Mônica, (senhora minha mãe) porque ela não começa a fazer aula de canto?” E foi aí que minha mãe foi atrás de uma professora particular. Comecei a estudar com uma professora muito querida, que levo no coração desde sempre (Elaine Marin) e que sou muito grata a tudo que me ensinou. Foi com ela também que comecei a aprender a tocar violão, depois de ter ganhado o primeiro no natal de 2001. Desde então, eu nunca parei de estudar. Com 15 anos, comecei a trabalhar em uma banda que tocava em um hotel no interior de São Paulo. Eu me lembro que meus pais me levavam até lá (cerca de 1h30 dirigindo), esperavam eu cantar (cerca de 2hs), e voltávamos para casa, aliás, eu tenho muita sorte de ter uma família que me sempre me apoiou e continua apoiando, sem esse respaldo, eu seria o que sou hoje. Quando completei 18 anos, fui convidada para trabalhar em navios de cruzeiros e acabei fazendo 3 temporadas como cantora principal da banda a bordo. Foi uma experiência indispensável para meu crescimento como artista. No fundo, no fundo, eu sempre soube que era isso que eu queria fazer da vida, fazer música pra mim, é como respirar, é essencial para sobrevivência e para felicidade plena.”
Como foi a reação da sua família quando escolheu a música como profissão?
“Eles sempre me apoiaram. E eu sei que nem todo mundo tem a mesma sorte que eu em relação a isso, por isso sou eternamente grata aos meus pais, à minha irmã, e toda a minha família que sempre esteve presente nas minhas aprensentações mundo a fora. São peças importantíssimas na minha jornada.”
No início de sua carreira voce já tinha definido seu estilo ou se preocupava em desenvolver músicas para um determinado público?
“Não, eu nunca soube muito bem se tinha um estilo definido. Quando eu tinha 14 anos, uma produtora que fazia uma participação em um musical na escola, se ofereceu para produzir um CD meu, junto com um show de lançamento. Fizemos os dois, e eu me lembro que no repertório tinha de “O bêbado e a equilibrista” (João Bosco) a “My Immortal” (Evanescence).”
O primeiro trabalho autoral de Natália é composto por duas canções autorais e duas releituras. A primeira faixa, No Samba Quero Viver, deixa claro o amor da artista pelo samba, a canção é autoral e conta com um lindo arranjo. Já a segunda e quarta faixa são interpretações das canções Com Que Roupa, de Noel Rosa e Tico Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu, mas que se eternizou na voz de Carmen Miranda.
O primeiro EP
“O meu primeiro trabalho como carreira solo foi lançado em 2015. Um EP com quatro faixas, intitulado “No Samba Quero Viver”. Foi um marco muito importante na minha vida, porque era algo que eu sempre sonhei em fazer, gravar um disco com algumas músicas minhas e alguns covers, com arranjos elaborados, com pessoas especiais, do jeito que eu sempre quis. Eu nunca imaginei que iria lançar meu primeiro trabalho em Los Angeles, e ainda ter na plateia Tiernney Sutton e Jeff Hamilton.”
Hoje em dia qual é o seu público-alvo e qual o seu diferencial no mercado?
“Meu público-alvo é quem gosta de samba, MPB, bossa nova, choro, quem curte essa parte da cultura musical brasileira. O samba é conhecido mundialmente e nasceu no Brasil. É muito gratificante poder cantar e fazer música do meu próprio país, para pessoas vindas dos quatro cantos do mundo. Eles ficam fascinados com a riqueza que a nossa música tem, mesmo às vezes, não entendendo uma palavra. Eu procuro fazer do momento que estou cantando, um momento único, de entrega e de verdade, e acredito que isso seja um diferencial pra quem ouve, eu procuro tocar o coração das pessoas através da minha voz.”
Se preocupar com a estética ou deixar fluir?
“Eu não me preocupo com questões estéticas não, mas acho que existe um certo “padrão” para cada estilo musical, e eu acabo compondo coisas que me soam naturais, dentro do que estou acostumada a cantar e ouvir. Meu processo de composição sempre começa pela melodia. Às vezes me pego cantado algo aleatório, e imediatamente gravo no celular para poder depois desenvolver a ideia. Meu marido (também músico) me ajuda muito nesse processo de criação melódica, ele muitas vezes complementa uma primeira ideia minha, e quando vemos, temos uma música nova prontinha. A partir daí eu tento encaixar a progressão harmônica que já soa na minha cabeça, mas eu sempre peço uma ajudinha de alguns amigos guitarristas para estruturar melhor a harmonia e para “fazer sentido” com a melodia. A letra é a última coisa que faço quando componho, e confesso que é a parte mais desafiadora para mim, porque eu não gosto de colocar algo sem sentido, ou num sentido muito literal. Eu procuro sentir o que a música passa, para a partir daí, achar um “tema” para letra, e escrevê-la.”
As principais influências
“Como cantora de samba e música brasileira, a primeira referência e influência é Elis Regina (bem clichê né), mas ela foi (e continua sendo) a maior cantora brasileira, conhecida mundialmente. Além de Elis, uma referência da pesada é Leny Andrade! Eu ouço, admiro e aprendo muito com o trabalho da Leny, é incrível o swing dessa mulher! Me inspiro muito nela na hora de improvisar, por exemplo. Outras vozes maravilhosas que são referências para mim, são: Ella Fitzgerald, Frank Sinatra, Emílio Santiago, Cássia Eller, Maria Rita, Roberta Sá, e por aí vai. Além disso, ouço muito Djavan, Rosa Passos, João e Diogo Nogueira, Cartola, Noel Rosa, Zeca Pagodinho, João Bosco, todos fontes de inspiração.”
As influências da nova geração
“Eu adoro o trabalho do Diogo Nogueira, vem muito de encontro ao que eu gosto de cantar e ouvir; o trabalho da Roberta Sá, lindo, bem estruturado, com interpretações bonitas; Maria Rita, Chico Pinheiro, Vanessa Moreno.”
Natália Sandrini é uma das artistas destaque na plataforma Bee My Ears. Com o intuito de unir artistas independentes a profissionais consagrados e a um público fomentador de opiniões, a plataforma possibilita que os artistas recebam feedbacks sinceros dos ouvintes contribuindo para o desenvolvimento de suas composições e de seu posicionamento no mercado.
Como conheceu a plataforma Bee My Ears? De que forma tem te ajudado?
“Conheci através do amigo e parceiro de trabalho, Bruno Justi. Na verdade, eu conheço o Bee My Ears desde quando ainda era uma sementinha, por conversar bastante com o Bruno e ele me contar da ideia e da vontade de realizá-la, e eu tinha certeza que seria um sucesso porque conheço o Bruno e sei da capacidade, do comprometimento e do profissionalismo dele. Está sendo uma experiência muito interessante receber esses feedbacks nas minhas músicas, de pessoas que eu não conheço, com pontos de vista diferentes e muito agregadores.”
Plataformas Digitais vs Shows Ao Vivo
“Eu acredito que as plataformas digitais de certa forma, aproximam as pessoas. Eu sei de gente na Europa que já ouviu minha música, sendo que eu nunca fiz show por lá (ainda!). Elas possibilitam o acesso à arte mais facilmente, e também possibilitam artistas independentes, mostrarem seu trabalho ao mundo. Mas eu ainda sou mais adepta a realmente conhecer um artista pelo seu show ao vivo, pois é onde ele realmente está mais vulnerável e é possível sentir o que ele quer transmitir com sua música.”
O que os fãs podem esperar de você nos próximos meses?
“Vem muita coisa boa por aí. Estamos finalizando o primeiro EP do “Little Brazil Trio” e eu estou super empolgada para compartilhar os resultados com o mundo. Além disso, existe outro projeto meu, como cantora e compositora, saindo do papel, aguardem as novidades em breve!”
Apesar de morar nos Estados Unidos, Natália continua fazendo música brasileira. Em seus shows prova a todos que é possível sim cantar e emocionar o público de outros países com músicas da nossa cultura. A artista se apresenta frequentemente com o Little Brazil Trio ao lado de Bruno Justi e Marcelo Bucater, valorizando em seu repertório o samba, choro, baião e bossa nova.
Que a sua música chegue a mais lugares abraçando a todos com sua voz!
Ouça o EP completo no Spotify.