Conhecer bandas novas ou mesmo um artista solo, que realmente nos faça ficar envoltos em suas histórias, pode ser uma tarefa difícil em meio a tantas informações. Porém, estamos aqui para te ajudar nessa missão! Toda semana apresentaremos a vocês diferentes artistas do cenário independente que assim como nós vocês precisam ouvir. Hoje vamos falar da nova abordagem musical presente nos trabalhos da artista Luiza Lian.
É comum que o tema de muitas letras de artistas baianos gire em torno da espiritualidade e fé. Os toques dos terreiros, repletos de uma herança africana, preenchiam o recôncavo baiano e foram responsáveis por influenciar a vida de muitos músicos, como é o caso do cantor e compositor Mateus Aleluia que fazia parte do grupo Os Tincoãs durante as décadas de 60 e 70.
Entretanto, a cultura espiritual e musical que herdamos de países africanos sofreram algumas modificações se renovando e ganhando nova forma. Muitos artistas do novo cenário musical fazem o uso de conceitos antigos com uma nova roupagem.
Luiza Lian é uma das grandes representantes desse novo cenário. A cantora e compositora nasceu em São Paulo, mas deixa claro em muitas de suas entrevistas que gostaria de ser baiana. Em seu novo trabalho intitulado “Oyá Tempo”, produzido por Charles Tixier, fica clara a sua influência espiritual, entretanto o álbum possuí características modernas fazendo com que alguns temas abordados se diferenciem das religiões tradicionais de matrizes africanas.
Aos fãs de Nina Oliveira, Letrux e XeniaFrança, Luiza Lian é a artista que lhe faltava.
Assista ao clipe de “É nela que se mora?”:
Luiza lançou seu primeiro álbum autointitulado em 2015 através do selo RISCO. As canções falam sobre assuntos do dia a dia, exceto pela quarta faixa, “Protetora”, que é uma homenagem a oxum, orixá das águas doces e do amor.
Os instrumentistas, membros das bandas Charlie e os Marretas e O Terno contribuíram para a sonoridade das 13 faixas que compõe o disco. O uso de uma guitarra com poucos efeitos durante grande parte das músicas fez com que os acordes soassem claros e totalmente inteligíveis, além de os diferentes timbres de teclado que fazem com que uma curva de energia seja construída ao decorrer das canções.
Ouça o álbum “Luiza Lian”:
Durante alguns encontros com Charles Tixier, membro das bandas Charlie e os Marretas e Holger, a cantora apresentou alguns de seus poemas sem nenhuma pretensão, entretanto as ideias foram surgindo e Charles construiu algumas batidas que se tornaram arranjos para os poemas.
Em 2017, os encontros, que começaram de forma despretensiosa dentro do quarto de Charles, deram origem ao álbum “Oyá Tempo”, diferente de tudo que estava sendo lançado e principalmente, diferente de tudo que a cantora já havia feito.
Em seu novo trabalho Luiza fala sobre a espiritualidade, um estudo que vivencia dentro de seu terreiro a muitos anos. Oyá, também conhecida como Iansã, é um orixá feminino de extrema força, mulher guerreira que se diferencia do estereótipo de “mulher do lar” criado por nossa sociedade. Desta forma, o álbum se torna cheio de energias fortes que empoderam a todas as mulheres.
Para além dos assuntos espirituais, as canções possuem batidas modernas que vão do funk carioca ao vaporwave. Apesar do conteúdo diferente, recheado de informações, as 8 faixas que compõe o álbum não ultrapassam a marca dos 25 minutos.
O álbum foi lançado como um projeto visual, possui um site feito pelo artista Dedos e um média-metragem, que conta com as participações da cantora e compositora Nina Oliveira e do rapper MC Diggão, produzido pela Filmes da Diaba.
Assista ao média-metragem“Oyá Tempo”:
Na última quarta-feira (23), Luiza anunciou um dos três últimos shows de sua turnê que acontecerá no Vento Festival em São Sebastião (SP), no dia 31 deste mês. Esperamos ansiosos que novos lançamentos estejam a caminho, sejam eles sobre uma estética umbandista ou sobre qualquer devaneio que o cérebro humano se deixe levar.
Que Oyá esteja sempre com você, que sua música continue cheia de energia!
Ouça o álbum “Oyá Tempo” no Spotify.