Em “Dona de Mim”, seu álbum de estréia, IZA busca seu lugar no Monte Olimpo do pop nacional com um trabalho agressivo mas ainda sensual e sincero.
Independente do que esteja fazendo, IZA é o tipo de mulher que não passa despercebida. Seja nas capas de revista ou nos programas de televisão ao lado de estrelas nacionais, a moça do subúrbio do Rio de 27 anos galvanizava todas as atenções fazendo algo muito simples: sendo ela mesma. Desde que assinou contrato com a gigante Warner Music Brasil em 2016, IZA enfrenta triunfante uma escalada rumo o sucesso nacional. De lá pra cá se passaram dois anos em que Isabela foi mais marketing que música, mas o lançamento do seu álbum de estréia, Dona de Mim, nessa sexta-feira (27) abre um interessante novo capítulo na saga da nossa heroína musical da Olaria.
O pop nacional tem enfrentado sua melhor época em tempos desde a metade dessa década, onde o sertanejo universitário monopolizou todos os veículos de consumo sem dó. A ascensão de Anitta abriu uma fatia do mercado que ansiava por uma representante digna. Desde então, não foram poucas as tentativas de emplacar outro ato pop nacionalmente. Os que mais chegaram perto foram Ludmilla, Pabllo Vittar e Nego do Borel. No entanto, os fãs de música pop queriam mais: queriam uma artista pop com ousadia para desafiar o status quo. E é ai que IZA se encontra com seu álbum, assumindo pop, mas que flerta com várias vertentes da música nacional e da black music.
IZA por si só já é um evento. Seu corpo, sua pele e suas tranças caracterizam a opressão da nossa sociedade. No entanto ela transforma isso em sua essência falando abertamente sobre racismo, feminismo e a importância da representatividade. O álbum abre com “Ginga”, parceria com o rapper paulistano Rincon Sapiência. A canção é um registro forte com elementos hip-hop, R&B e trap. A aura da canção é complementada com o som de berimbaus e cânticos afrobrasileiros. O pré-refrão é quase um suplício e então IZA canta sobre dançar para superar as adversidades da vida. “Ginga” é um força da natureza.
“Bateu” e seu maior hit até o momento “Pesadão”, tem similaridades por seus elementos reggae. Enquanto “Bateu” é uma angustiante criação e aliviação de tensão sobre o uso de marijuana(?) “Pesadão” é um hino gospel que não causaria estranhamento sendo recitado no Festival Promessas. Letras como “Quando a maldade aqui passou/ E a tristeza fez abrigo/ Luz lá do céu me visitou/ E fez morada em mim/ não são o que o público brasileiro costuma querer ouvir nas rádios brasileiras. A parceria com o vocalista da banda O Rappa, Marcelo Falcão, funciona muito bem. E isso é um alívio.
O mesmo já não pode se dizer sobre a parceria com Ivete Sangalo. “Corda Bamba” bem que tenta, mas soou mais como um esforço comercial que nos faz esperar por uma energia que nunca realmente vem.
Mesmo com a boa produção e parcerias certeiras, a voz de IZA ainda é o ponto principal do disco. Ela é forte, cálida e envolvente. A cantora volta com a vontade de quem quer conquistar seu espaço na música e sabe que é talentosa. IZA canta com entusiasmo em “Rebola”. A parceria com a drag queen Glória Groove e produção de Carlinhos Brown é um hino contagiante que nos leva para ser livre e liberar toda energias dos nossos corpos.
IZA é tão dona de si que pode alternar em momentos de carência e autossuficiência em pouco tempo sem soar falsa. Na balada “Saudade Daquilo” ela cede a carência da sua libido ao som de guitarras moderadas e logo em “Engano Seu” IZA desdenha com malícia do interesse de um parceiro.
Na parceria com o cantor de pagode Thiaguinho, “É Noix”, IZA prova que pode aproveitar o melhor das suas referências internacionais sem abrir mão de sua brasilidade. “Toda Sua”, fecha a parte mais animada do álbum e somos então apresentadas a uma IZA mais reflexiva e melancolia.
“Você Não Vive Sem” mostra o registro mais grave da carioca. Não é uma música ruim, mas talvez soe como uma versão menos excitante de “Saudade Daquilo”. Na faixa-título, Isabela fala sobre as dores e delícias de pertencer a si mesma. Ser independente em todas as áreas da vida não é fácil, mas ainda é a melhor opção.
“Lado B” é uma emocionante ode ao que amor pode nos trazer de bom ou de ruim. “No Ponto” nos convence que IZA é uma crooner vinda dos anos 60, ao som de toques leves de R&B até arrastar todos com um explosivo refrão. A 14ª e última faixa do álbum “Linha de Frente” contém um andamento acelerado, vocais masculinos e uma sensação hip-hop aonde IZA causa inveja em muitos rappers com seu fraseado afiado, no entanto é uma música que pouco adiciona a obra no total
Em “Dona de Mim”, seu álbum de estréia, IZA busca seu lugar no Monte Olimpo do pop nacional com um trabalho agressivo mas ainda sensual e sincero. É um álbum de estréia de altíssima qualidade onde tirou as teias de pontos pouco navegados da música pop nacional. IZA explora todos os pontos de sua feminilidade com força, sensualidade e elegância. A imperatriz do pop é a artista que todos nós queremos nos inspirar e amar.