Lado B: O que podemos aprender com rixas no mundo pop impostas pela mídia - Palco Pop
Colunas | Publicado por Jonathan Oliveira em 19 de abril de 2018.
Lado B: O que podemos aprender com rixas no mundo pop impostas pela mídia

Lado B é uma coluna sobre os bastidores da música, nas entrelinhas. O Lado B do disco, onde ficam as músicas menos conhecidas, mas que podem dizer muito sobre o processo de criação de um projeto.

Como sabemos, o mundo da música é um mercado que gera muito dinheiro: turnês, discos, clipes, premiações, movimentam bilhões de dólares todos os anos. E não para por aí, pois diversos ramos do entretenimento ganham força a partir disso, como programas de TV, rádios e outras fontes de informação como revistas e sites de notícias. Não há problema algum nisso, afinal de contas o Palco Pop sobrevive de música como tantas outras fontes. Mas a mídia pode ser problemática a partir da forma que passa a informação: sem medir as consequências.

A situação mais recente que ganhou destaque na mídia aconteceu com Nicki Minaj. Em entrevista a rádio Beats 1 para divulgar seus novos singles “Chun-Li” e “Barbie Tingz“, a rapper desabafou sobre um desentendimento que ocorreu com Cardi B durante a divulgação de “Motorsport“, faixa do trio Migos em que as duas estão. Confira:

Tudo indica que houve um erro na comunicação entre as rappers e suas gravadoras, mas o importante é que aparentemente as duas já se entenderam. Os fãs não ajudam a deixar as mágoas para trás, pois acabam alimentando os pequenos desentendimentos, transformando tudo em uma grande bola de neve. A mídia se aproveita disso, criando comparações entre os artistas para render ainda mais discussão, mais cliques, mais dinheiro.

Fazer comparações entre mulheres na música pop não é um assunto atual. Na década de 80, a mídia criou diversas rixas entre artistas, tendo em destaque Cyndi Lauper e Madonna. A revista Época relembrou essa disputa em uma edição especial com a matéria abaixo, clique! 

Aproveite os cinco minutos de fama de Madonna: “A ‘Artista do Ano’ é uma cantora descartável. Ao contrário de Cyndi Lauper – que é mais criativa e canta melhor  -, não deve durar até o próximo verão.”

É claro que podemos ter uma opinião, onde nossos gostos ganham destaque, mas gostar de Cyndi Lauper tornava Madonna descartável? Ao contrário também não faz sentido. Mesmo sendo uma cantora mais jovem que Cyndi na época, o trabalho de Madonna devia ter sido mais respeitado. É triste imaginar o ambiente tóxico que a mídia coloca as artistas ao fazer essas comparações.

Entre outras disputas impostas, surgiu Lady Gaga. Desde o início da sua carreira colocou Madonna como sua musa inspiradora. Porém os tabloides não perderam tempo e a chamaram de cópia da rainha do pop. Surgiram comparações exaustivas entre “Express Yourself“, de Madonna e “Born This Way”, de Lady Gaga. Madonna ainda abraçou a comparação e começou a cantar “Born This Way” logo após a sua música em shows da MDNA Tour, para demonstrar que também achava a canção uma imitação.

Parecidas ou não, seria mais saudável falar sobre como ambas as canções ajudaram as pessoas a se aceitarem como são, não é mesmo? Estando há quatro décadas na música, é normal pensar que o trabalho de Madonna é inspirador para muitos artistas. Mas pelo visto a cantora esqueceu das comparações que sofreu com Cyndi no começo da carreira e apoiou essa ideia.

Uma das rixas mais populares atualmente é entre Katy Perry e Lady Gaga. Tudo começou com o lançamento de “Applause” de Gaga e “Roar” de Katy, que aconteceram no mesmo dia em 2013. Katy acabou vendendo mais que Gaga, o que gerou um debate interminável entre os fãs das artistas nas redes sociais sobre quem era a melhor. O que vamos combinar, não faz muito sentido já que “Roar” e “Applause”, assim como os álbuns “PRISM” e “Artpop” soam muito diferentes. As duas já se declararam fãs uma da outra e a todo momento tentam acalmar a emoção dos fãs. “Sem negatividade, obrigada”, disse Gaga a um fã após tirar sarro de Katy não ter saído do Grammy sem nenhum prêmio.

Katy e Gaga se cumprimentando em 2016

Com a internet sendo cada vez mais parte do cotidiano das pessoas, os graus de comparações tem aumentado. Assim como o desrespeito aos trabalhos de artistas, criando um ambiente tóxico. A maioria das vítimas de todo esse jornalismo barato continua sendo as mulheres, já que é muito mais plausível para a sociedade machista do que colocar em dúvida o trabalho dos homens.

O que aprendemos com isso? Podemos selecionar melhor nossas fontes de notícias, assim como as palavras que usamos ao falar do trabalho de alguém. Seja de um artista pop ou de qualquer outra pessoa com um trabalho mais humilde. Precisamos aprender a ter empatia e de nos colocar no lugar do outro.

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