Lado B é uma coluna sobre os bastidores da música, nas entrelinhas. O Lado B do disco, onde ficam as músicas menos conhecidas, mas que podem dizer muito sobre o processo de criação de um projeto.
Linn Santos é uma mulher paulista, funkeira, negra, cantora e compositora. Com 27 anos, a artista já passou por diversas lutas para conquistar seu espaço em um lugar dominado por homens. E não parou por aí, pois Linn é uma mulher trans.
E o que muda? Muda muita coisa já que só ano passado mais de 179 mulheres trans foram assassinadas. São quase 1 homicídio a cada 48 horas. Então há muita coisa para ser dita, desmascarada, escancarada. Basta ouvir o que Linn tem a dizer em sua música.
Em 2016, ela lançou “Enviadescer”, “Talento” e “Bixa Preta”, suas primeiras músicas de trabalho. As canções têm uma pegada funk, o que não impediu que fossem bem elogiadas, deslanchando Linn no cenário musical por problematizar o papel do gay afeminado na sociedade, e principalmente dentro da comunidade LGBTQ+.
Em 2017, por causa do destaque que recebeu, Linn foi convidada para participar do programa Amor & Sexo, da Rede Globo, e performou “Bixa Preta”, se declarando como bixa preta, periférica, travesti, transviada.
Meses mais tarde lançou “Mulher”, demonstrando uma mudança no seu estilo musical para algo mais afro-funk-vogue. Um trabalho intimista que fala de todas as mulheres, sejam elas trans ou cis, e tudo que elas enfrentam graças ao machismo e a transfobia. Um projeto bastante comparado ao álbum “Lemonade”, de Beyoncé.
Depois da ajuda dos fãs em um financiamento coletivo, Linn lançou “Pajubá”, seu primeiro álbum, em outubro de 2017. O disco possui 14 canções, com participações especiais de Liniker e os Caramelows, Mulher Pepita e Gloria Groove. Para Linn, Pajubá é muito mais que música.
“Pajubá é linguagem de resistência, construída a partir da inserção de palavras e expressões de origem africanas ocidentais. É usada principalmente por travestis e grande parte da comunidade TLGB. Eu chamo esse álbum de pajubá porque pra mim ele é construção de linguagem. É invenção. É ato de nomear. De dar nome aos boys. É mais uma vez resistência. Eu falo de mim, mas em essência falo também de várias questões ligadas ao feminino e ao que sinto dentro da comunidade TLGB. Solidão, erro, afeto, corpos preteridos, eu queria um novo vocabulário para tudo isso”
Ouça “Pajubá” nas plataformas digitais!
Linn fez ainda mais. Em fevereiro deste ano lançou o documentário “Bixa Travesty”. Dirigido por Claudia Priscilla e Kiko Goifman, conta a história de Linn e acompanha a cena musical produzida por artistas trans em São Paulo. Ainda não há previsão de lançamento no Brasil, mas por enquanto assista ao trailer!
O longa foi aclamadíssimo e acabou sendo premiado como melhor documentário no Teddy Awards, premiação com temática LGBT no Festival Internacional de Cinema de Berlim. O júri se encantou com a história da cantora, e disse que “com a beleza dos sons e a estética das imagens, o filme nos leva em uma jornada de autodeterminação entre fantasia e autocuidado”.
Linn da Quebrada é uma luz de força, talento e representatividade em um país tão violento com o público LGBTQ+. Porque como ela mesma diz, ser bicha, trava, sapatão, trans ou bissexual é também existir.
Pra ser tão transviada assim, tem que ter muito, mas muito talento.
Texto: Jonathan Oliveira
Fontes: Linn da Quebrada – Site Oficial
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Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra)